Professor da Stanford University ministra palestra na Ufal

Evento contou com divulgação de bolsas integrais para estudar nos Estados Unidos

Por Layla Alves (bolsista de Jornalismo)
- Atualizado em
Professor Guilherme Lichand (à esquerda) e o professor Niraldo, assessor internacional (à direita)
Professor Guilherme Lichand (à esquerda) e o professor Niraldo, assessor internacional (à direita)

Na última segunda-feira (13), a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sediou a palestra do Guilherme Lichand, professor de Educação na Stanford Graduate School of Education, sobre análise de dados e oportunidades de bolsas de estudos para brasileiros. O evento ocorreu no Auditório do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES), que foi inaugurado em 14 de abril deste ano.

Na ocasião, também estiveram presentes o deputado federal de Alagoas, Rafael Brito, e o assessor da Assessoria de Intercâmbio Internacional da Ufal, José Niraldo de Farias. 

A palestra foi dividida em duas etapas: Discussão sobre os dados da pesquisa Equidade.Info, com início às 16h, e Orientações sobre programas de intercâmbio com a Universidade de Stanford (EUA), começando às 17h. Estudantes de diversos âmbitos compareceram ao painel; Administração, Economia, Jornalismo e Tecnologia da Informação foram apenas alguns dos cursos que marcaram presença.

“Isso enriquece a formação, amplia os horizontes. Por que não ter aspirações maiores de contribuir para a ciência de ponta, embarcar em um dos programas mais concorridos e voltar para melhorar o nosso país?”, disse o professor Guilherme, PhD em Economia Política e Governo pela Universidade de Harvard. Lichand, que também é reconhecido pela MIT Technology Review como maior inovador social do Brasil entre empreendedores com menos de 35 anos, ressaltou a experiência única que é o aprendizado intercultural: “Toda a oportunidade de conhecer outras universidades, sobretudo fora do Brasil, ajudam o aluno a entender como é que funciona a ciência de ponta em outros espaços, em países que estão na liderança do conhecimento.”, concluiu. 

Já o deputado alagoano destacou a importância do evento e o desejo de capacitar estudantes nordestinos no meio internacional: “Vale muito a pena, aplica, se inscreve, participa, que a gente quer ter a honra de ter representantes de Alagoas lá na Universidade de Stanford”, falou Brito.

Análise de dados: o primeiro passo para mudança

Durante a palestra, o pesquisador apresentou a iniciativa Equidade.Info - Painel Representativo de Escolas do Brasil, um portal de dados longitudinal que reúne informações para serem usadas na tomada de decisões de políticas públicas no Brasil. O foco do projeto, que funciona sem fins lucrativos, é a Educação Básica.

O professor apontou que as informações raciais existentes antes da Equidade.Info possuíam muitas variáveis que afetavam a sua veracidade; em especial, a ocorrência de professores e gestores escolares selecionando a etnia das crianças e adolescentes sem perguntar a elas  – o que era diretamente afetado pela visão de mundo desses responsáveis.

Racismo presente nos números

Lichand explicou que há uma ‘’mudança na identificação de raça’’ até mesmo entre os adultos, quando eles passam por situações que causam ‘’mudança de status’’, tais como prisão ou demissão. Assim, esse fenômeno também se estende aos estudantes. Nesses casos, aspectos como capacidade de leitura em uma idade considerada ‘’adequada’’ e deficiências que afetam o aprendizado (como dificuldade de ouvir) são vistas como motivadores para inconsistências durante as entrevistas, servindo para a escola “embranquecer” alunos que não se encaixam nessas definições e classificar como parte de etnias não-brancas estudantes que apresentam essas características. ‘’Raça é uma questão social. O racismo existe. Se o racismo estrutural não existisse, não teríamos esses fenômenos’’, declarou o professor Guilherme.

A maneira de coletar do projeto traz um recorte mais preciso da realidade brasileira, tendo em vista que conta com a heteroidentificação dos estudantes. Iniciado em junho de 2023, a pesquisa de campo se dá da seguinte forma: os acadêmicos realizam as perguntas primeiro para a escola e depois diretamente para as crianças e os adolescentes, com objetivo de coletar dados e compreender como o aluno entende raça, sem incentivos externos – ou seja, alguém apontando sua etnia por ele. Foi apurado que há maior divergência quando se trata de crianças menores e que a instituição escolar costuma discordar ou concordar na raça relatada pelo estudante a depender do seu encaixe em normas sociais, como citado anteriormente.

Os índices estudados também foram comparados com pesquisas realizadas nos Estados Unidos.

Pesquisa e políticas lado a lado

Para combater um problema, é preciso entendê-lo. Com isso em mente, a Equidade.Info busca coletar informações para que seja possível ter uma maior compreensão do racismo no Brasil, abrindo portas para a montagem de políticas públicas relacionadas à equidade.

“As questões são complexas, mas, aos pouquinhos, estamos vendo uma mudança”, afirma o palestrante, “Estou mais otimista agora do que quando começamos.”, disse.

Os participantes da iniciativa visitam as escolas a cada dois meses, totalizando seis visitas durante o ano. Os resultados, diferente de demais pesquisas, são divulgados em tempo recorde. Esses dados são liberados para serem utilizados em pesquisas, basta entrar em contato através do formulário disponível no site oficial.

O projeto também fornece pesquisas encomendadas. Um dos maiores destaques da Equidade.Info foi o seu papel no estudo sobre o uso de celulares nas escolas brasileiras.

Stanford busca talentos brasileiros

Posteriormente, Lichand apresentou as oportunidades de bolsas para brasileiros estudarem na prestigiada Universidade de Stanford, que faz parte da Ivy League — um grupo de universidades norte-americanas renomadas e reconhecidas globalmente pela excelência acadêmica.

“Esse ano, temos 6 bolsas para distribuir e só conseguimos preencher quatro delas.”, disse Guilherme, logo após afirmar que há mais vagas do que aplicantes. O pesquisador também apontou que os inscritos normalmente residem no eixo Rio-São Paulo e Minas Gerais. Entretanto, ele almeja ver mais talentos do nordeste nos corredores de Stanford. ‘’Hoje, espero convencer alguns de vocês a tentarem se inscrever. O objetivo dessa divulgação é garantir que a turma muito boa da Ufal e de outras universidades do nordeste saibam que isso [intercâmbio] é possível, está acessível e é desejado. Eu espero que mais alunos daqui tentem e muitos consigam para que a gente esteja juntos nas próximas gerações.”

Segundo o professor Lichand, o maior obstáculo tem sido a obrigatoriedade do inglês fluente, com nota mínima de 100 no exame do TOEFL. Além disso, existem outros requerimentos necessários para concorrer ao intercâmbio:

  • Recommendation letter (carta de recomendação, mínimo de duas, escritas por autoridades com quem o candidato teve contato/trabalhou, como professores e chefes)

  • Statement letter (carta escrita pelo candidato, na qual ele explica como pretende contribuir para mudar o Brasil).

As bolsas de estudos são ofertadas pelo Lemann Center, localizado em Stanford, e é aplicável para pesquisadores de diferentes áreas. Não é preciso pagar: a universidade norte-americana arca com os custos de estádia, alimentação, etc. Se o candidato aprovado for de baixa renda, o Lemann Center também cobre a passagem de ida e volta.

Quando perguntado sobre que era procurado nos aplicantes, Guilherme foi claro: ‘’Alguém que consiga contar uma história de como a educação mudou a sua vida.’’

As oportunidades se dividem em: mestrado, doutorado (mais concorrido, atualmente quatro brasileiros estudam nessa condição em Stanford) e visitantes (são recebidos cerca de 10 estudantes por ano nessa categoria). Não é preciso estar formado no momento da inscrição, apenas no início do programa. Para mais informações, acesse o site oficial do Lemann Center

‘’Cada um aqui com a sua história de compromisso com a educação, da educação ter transformado a sua vida, a gente transformar essa questão do Brasil, do seu estado e do país, abre as portas para que esses alunos tentem fazer parte desse projeto.’’ ressaltou Guilherme Lichand, reafirmando seu desejo de ter mais pesquisadores brasileiros na universidade de Stanford.

Trump vs Imigrantes: como isso afeta os estudantes internacionais?

Outro obstáculo que tem causado preocupação nos acadêmicos é o cenário político atual dos EUA. No período da sua campanha eleitoral, Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, fez várias promessas para “frear” a imigração no país – o que inclui estudantes internacionais. Desde o início do seu mandato, Trump mostrou repetidamente que não se tratavam apenas de palavras vazias para arrecadar votos: suas iniciativas anti-imigração têm tomado cada vez mais força.

Um dos alvos de ataque do líder de extrema direita foi a Universidade de Harvard (que também é parte da Ivy League). Em uma carta, Donald Trump acusou a instituição de promover “ideologias e terrorismos” e exigiu que “estudantes internacionais hostis aos valores americanos” não fossem aceitos no campus. O presidente não definiu o que seriam “valores americanos”. Além disso, a sua administração também requisitou o fechamento total de programas e escritórios de diversidade, equidade e inclusão. Esses foram apenas alguns dos pedidos de Trump, realizados sob a ameaça de corte orçamentário e cessação de isenção de impostos para a Universidade.

Através dos advogados, Harvard comunicou que não cumpriria as exigências, declarando que aquilo era uma violação da Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão. Em carta aberta, o reitor garantiu o compromisso da instituição com a educação libertária: “A Universidade não abrirá mão de sua independência nem abrirá mão de seus direitos constitucionais”.

Nesse contexto, a insegurança se instalou, não apenas nos estrangeiros que já estão nos EUA, mas em quem tem o sonho de se candidatar para bolsas de estudo em solo norte-americano.

“O Centro [Lemann] existe há 11 anos e foi renovado por mais 10 anos. Temos pelo menos mais nove. A gente espera que continue sendo renovado, para que a gente tenha esses programas continuando. Como funciona com doação, eles não são afetados pelo corte de orçamento da universidade, então isso é super bom”, explicou o professor Lichand. “Os brasileiros estão resguardados. Mesmo os estudantes de doutorado, é prioridade máxima da universidade garantir isso. Os alunos estão bem protegidos. A política complica as coisas. Os nossos alunos, este ano, passaram um ou dois meses sem conseguir marcar a [entrevista], porque estava congelado, mas agora já conseguiram. E os visitantes também, damos um jeito. Nesses tempos, a gente vive um dia de cada vez.”

Desconto no TOEFL para estudantes da Ufal

“Vocês têm que fazer o TOEFL. É extremamente importante”, aconselha o professor José Niraldo, assessor da Assessoria de Intercâmbio Internacional da Ufal. Ele é fluente em cinco idiomas e já ministrou aulas nos Estados Unidos. “É extremamente importante que vocês aprendam mais línguas, primeiro o inglês, mas, depois, mais idiomas.”

A Universidade Federal de Alagoas, através de uma cooperação com o Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB)  e a Educational Testing Service (ETS), oferece um desconto de 15% para o exame TOEFL iBT, destinado a estudantes, professores, técnicos e pesquisadores da Ufal.

O voucher é válido para as modalidades Test Center e Home Edition.

“Vocês não estão se formando para permanecer em Maceió, estão se formando para serem cidadãos e cidadãs do mundo”, afirma Niraldo.